Leishmaniose

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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(B55) Muco cutâneo.
Eti. Leishmania braziliensis [transmitida pelo Phlebotomus].
Lesões úlcerativas do nariz, Boca e Faringe.
(ref. CID10) Infestação parasitária na leishmaniose, (H03.0 e B55.-)
Leishmaniose cutânea, (B55.1)
Leishmaniose cutâneo-mucosa, (B55.2)
Leishmaniose dérmica após calazar, (B55.0)
Leishmaniose não especificada, (B55.9)
___ tegumentar americana, (ref. Guia de Vigilância Epidemiológica) Doença infecciosa causada por protozoários do gênero Leishmania, que acomete Pele e mucosas.
É uma zoonose em franca expansão geográfica no Brasil, sendo uma das infecções dermatológicas mais importantes, não só pela freqüência, mas principalmente pelas dificuldades terapêuticas, deformidades e seqüelas que pode acarretar. Ela vem ocorrendo de Forma endêmico-epidêmica apresentando diferentes padrões de transmissão, relacionados não somente à penetração do homem em focos silvestres, freqüentemente em áreas de expansão de fronteiras agrícolas. Tem-se evidenciado a ocorrência da Doença em áreas de Colonização antiga. Nestas, tem-se discutido a possível Adaptação dos vetores e parasitas a ambientes modificados e reservatórios. É importante problema de Saúde pública pela sua magnitude, transcendência e pouca vulnerabilidade às medidas de Controle.
Agente Etiológico: há diferentes subgêneros e espécies de Leishmanias, sendo as mais importantes no Brasil: Leishmania (Leishmania) amazonensis: distribuída pelas florestas primárias e secundárias da Amazônia (Amazonas, Pará, Rondônia e sudoeste do Maranhão), particularmente em áreas de igapó e de floresta Tipo várzea. Sua presença amplia-se para o Nordeste (Bahia, Ceará, Piauí), Sudeste (Minas Gerais) e Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso). Leishmania (Viannia) guyanensis: aparentemente limitada ao norte da Bacia Amazônica (Amapá, Roraima, Amazonas e Pará) e estendendo-se pelas Guianas, é encontrada principalmente em florestas de terra firme - áreas que não se alagam no Período de chuvas. Leishmania (Viannia) braziliensis: tem ampla distribuição - do sul do Pará ao Nordeste, atingindo também o centro-sul do país e algumas áreas da Amazônia Oriental. Na Amazônia, a Infecção é usualmente contraída em áreas de terra firme.
Além destas, existem outras espécies de Leishmania recentemente descritas: L.(V) lainsoni; L. (V) naiffi, com poucos casos humanos no Pará; L.(V) shawi encontradas nos estados do Pará e Maranhão.
Reservatório: varia conforme a espécie da Leishmania: Leishmania (Leishmania) amazonensis: marsupiais e, principalmente, o roedor rato-sóia (Proechymis), além do Oryzomys. Leishmania (Vianna) guyanensis: vários mamíferos foram identificados como hospedeiros naturais, tais como a preguiça (Choloepus didactylus), o tamanduá (Tamanduá tetradactyla), marsupiais e roedores. Leishmania (Viannia) braziliensis: até o momento não se conseguiu identificar definitivamente nenhum animal silvestre como reservatório; no entanto, é freqüente o encontro de várias espécies domésticas albergando, em proporção expressiva, o parasita, como o cão (Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo), eqüinos e mulas (Ceará, Bahia e Rio de Janeiro) e roedores domésticos ou sinantrópicos (Ceará e Minas Gerais).
Modo de Transmissão: o modo de Transmissão é através da picada de várias espécies de flebotomíneos (mosquito palha, cangalhinha, tatuquira etc), pertencentes a gêneros (Lutzomyia), dependendo da localização geográfica. Assim como os reservatórios, os vetores também mudam de acordo com a espécie de Leishmania: Leishmania (L) amazonensis: os vetores são Lu. flaviscutellata, Lu. reducta e Lu. olmeca nociva (Amazonas e Rondônia), que têm hábitos noturnos, vôo baixo e são pouco antropofílicos. Leishmania (V) guyanensis: os vetores são Lu.anduzei@/i;i@ Lu. whitmani e Lu. umbratilis que é o principal vetor, costumando pousar durante o dia em troncos de árvores e atacar o homem em grande quantidade quando perturbado. Leishmania (Viannia) braziliensis: em Área silvestre o único vetor demonstrado transmissor foi o Psychodopigus wellcomei, encontrado na Serra dos Carajás, altamente antropofílico, picando o homem mesmo durante o dia e com grande atividade na estação das chuvas. Em ambientes modificados, rural e peri domiciliar, são mais freqüentemente implicadas a Lu. whitmani, Lu. intermedia, Lu. migonei.
Período de Incubação: em média, de 1 mês, pode ser mais curto (2 semanas) ou mais longo (de 6 a 12 meses).
Aspectos Clínicos: Diagnóstico Clínico - Lesões Cutâneas: na apresentação cutânea da LTA as lesões de Pele podem caracterizar a Forma localizada (única ou múltipla), a Forma disseminada (lesões muito numerosas em várias áreas do corpo) e a Forma difusa. Na maioria das vezes a Doença apresenta-se como uma Lesão ulcerada única. Nas formas localizada e disseminada, a Lesão ulcerada franca é a mais comum e se caracteriza por Úlcera com bordas elevadas, em moldura. O fundo é granuloso, com ou sem exsudação. Em geral, as úlceras são indolores. Observam-se também outros tipos de Lesão como úlcero-crostosa, impetigóide, ectimatóide, úlcero-vegetante, verrucosa, tuberosa, linquenóide e outras. Nestas formas, na fase inicial, é freqüente a Linfangite e/ou Adenopatia satélite, que poderia preceder a Lesão de Pele. Às vezes no Cordão linfático podem se desenvolver nódulos, que se ulceram, lembrando a Esporotricose. As formas localizada e disseminada costumam Responder bem à terapêutica tradicional. Na Forma difusa, rara, as lesões são papulosas ou nodulares, deformantes e muito graves, distribuindo-se amplamente na superfície corporal, podendo assemelhar-se à Hanseníase Virchowiana. Evolui mal por não Responder adequadamente à terapêutica.
Lesões Mucosas: a apresentação Mucosa da LTA é na maioria das vezes secundária às lesões cutâneas, surgindo geralmente meses ou anos após a resolução das lesões de Pele. Às vezes, porém, não se identifica a porta de entrada supondo-se que as lesões sejam originadas de Infecção subclínica. São mais freqüentemente acometidas as cavidades nasais, seguidas da faringe, Laringe e Cavidade oral. Portanto, as queixas mais comuns no acometimento nasal são obstrução, epistaxes, rinorréia e crostas; da faringe, odinofagia; da laringe, Rouquidão e Tosse; da Cavidade oral, Ferida na Boca. As lesões podem ser discretas com poucos sintomas, daí a necessidade de sempre se buscar a Identificação de Doença em mucosas. Ao exame clínico, pode-se observar nas mucosas atingidas infiltração, ulceração, perfuração do Septo nasal, lesões ulcero vegetantes, ulcero crostosas em cavidades nasal, ulcero destrutivas. Poderá ocorrer destruição parcial ou total da Pirâmide nasal e outras estruturas acometidas na Boca. Outras mucosas, como Língua e Órgãos genitais, são raramente atingidas. A presença de uma ou várias cicatrizes atróficas em Pele ou História de Úlcera cutânea com evolução prolongada, ao lado das queixas acima referidas, reforçam o Diagnóstico clínico de Leishmaniose Mucosa. A Ausência de cicatrizes não afasta a suspeita clínica de acometimento mucoso por Leishmaniose.
A apresentação mucocutânea da LTA em que se verifica a presença de lesões associadas na Pele e na mucosa, pode ser concomitante (o acometimento mucoso à distância da Lesão ativa em pele), ou contígua (o Comprometimento mucoso ocorre por extensão da Lesão de Pele situada próxima de mucosas).
O Diagnóstico precoce de Lesão Mucosa é essencial para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e sejam evitadas as seqüelas deformantes e/ou funcionais.
Comprometimento ganglionar: o Comprometimento ganglionar pode ser primário (enfartamento de gânglios precedendo a Lesão de pele) ou secundário (enfartamento de cadeia ganglionar na região da Lesão de pele, após a Identificação desta).
Diagnósticos Diferenciais - Nas lesões cutâneas, devem ser excluídas as úlceras traumáticas, as úlceras de estase, a Úlcera tropical, úlceras de membros inferiores por Anemia falciforme, piodermites, paracoccidioidomicose, esporotricose, cromomicose, neoplasias cutâneas, Sífilis e Tuberculose cutânea. A Hanseníase virchowiana deverá ser excluída, principalmente no Diagnóstico diferencial da Leishmaniose cutânea difusa.
Nas lesões mucosas, o Diagnóstico diferencial deve ser feito com a paracoccidioidomicose, Hanseníase virchowiana, rinoscleroma, bouba, Sífilis terciária, Granuloma médio facial e neoplasias.
Notificação compulsória (Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo).
___ cutânea e cutâneo-mucosa relacionadas com o trabalho, (ref. Protocolo de Procedimentos Médico-Periciais n. 1.XV – Ministério da Previdência e Assistência Social) A Leishmaniose ou Leshmaníase por Leishmania braziliensis é zoonose do continente americano que apresenta no homem duas formas clínicas: a Leishmaniose Cutânea, relativamente benigna, e a Leishmaniose Cutâneo-Mucosa, mais grave. A primeira caracteriza-se pela formação de nódulos inflamatórios nos pontos do tegumento onde os flebotomíneos do gênero Lutzomyia inocularam o parasito, ao picar para sugar Sangue. A L. braziliensis é fagocitada pelos macrófagos da Pele e multiplica-se no interior de seus vacúolos digestivos, provocando a proliferação e Hipertrofia local do Sistema macrofágico para, em seguida, destruir as células hospedeiras e invadir novas, até que a resposta imunológica do organismo Limite a expansão da Infecção ou determine a Necrose da Área invadida. Produz-se então uma Ulceração cutânea com bordas intumescidas e cortadas a pique sobre o fundo necrótico. Em vez de necrose, a evolução pode fazer-se para formas lupóides, vegetantes ou difusas. Ela pode ser lenta, com períodos de metástases. A Forma grave da Doença decorre do aparecimento de metástases na Mucosa nasal ou orofaringeana. As ulcerações, aí, destroem as cartilagens e estruturas ósseas, produzindo lesões extremamente mutilantes da face, que comprometem a fisiologia e a vida social dos pacientes desta grave Doença infecciosa. O Diagnóstico é parasitoscópico ou imunológico (reação intradérmica com leishmanina ou de Montenegro).
Fatores etiológicos (gerais) e Identificação dos principais “agentes patogênicos” e/ou fatores de Risco de natureza ocupacional conhecidos – Em determinados trabalhadores, a Leishmaniose Cutânea ou a Cutâneo-Mucosa pode ser considerada como “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao mosquito transmissor podem ser consideradas como fatores de Risco, no conjunto de fatores de Risco associados com a Etiologia desta grave Doença infecciosa. A Leishmaniose cutânea e a cutâneo-mucosa relacionadas com o Trabalho têm sido abundantemente descritas em trabalhadores agrícolas ou florestais, em zonas endêmicas, e em outras situações específicas de exposição ocupacional, que podem ser reconstituídas nos procedimentos médico-periciais.
Procedimentos médico-periciais para o “reconhecimento técnico do Nexo causal entre a Doença e o trabalho” (Art. 337 Decreto 3048/99) De acordo com a Resolução 1488/98 do Conselho Federal de Medicina, aplicável a todos os Médicos em exercício profissional no país, “para o estabelecimento do Nexo causal entre os transtornos de Saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar: A História clínica e ocupacional, decisiva em qualquer Diagnóstico e/ou investigação de Nexo causal; O estudo do local de Trabalho; O estudo da organização do Trabalho; Os dados epidemiológicos; A literatura atualizada; A ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas; A Identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes, e outros; O depoimento e a experiência dos trabalhadores; Os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da Área de Saúde.” (Artigo 2o da Resolução CFM 1488/98). Recomenda-se, ademais, incluir nos procedimentos e no raciocínio médico-pericial, a resposta a dez questões essenciais, a saber: Natureza da exposição: o “agente patogênico” é claramente identificável pela História ocupacional e/ou pelas informações colhidas no local de Trabalho e/ou de fontes idôneas familiarizadas com o Ambiente ou local de Trabalho do Segurado?; “Especificidade” da relação causal e “força” da associação causal: o “agente patogênico” ou o “fator de risco” podem estar pesando de Forma importante entre os fatores causais da doença?; Tipo de relação causal com o Trabalho: o Trabalho é Causa necessária (Tipo I)? Fator de Risco contributivo de Doença de Etiologia multicausal (Tipo II)? Fator desencadeante ou Agravante de Doença pré-existente (Tipo III)?; No Caso de doenças relacionadas com o trabalho, do Tipo II, foram as outras causas gerais, não ocupacionais, devidamente analisadas e, no Caso concreto, excluídas ou colocadas em hierarquia Inferior às causas de natureza ocupacional?; Grau ou intensidade da exposição: é ele compatível com a produção da doença?; Tempo de exposição: é ele suficiente para produzir a doença?; Tempo de Latência: é ele suficiente para que a Doença se desenvolva e apareça?; Há o registro do “estado anterior” do trabalhador segurado?; O conhecimento do “estado anterior” favorece o estabelecimento do Nexo causal entre o “estado atual” e o trabalho?; Existem outras evidências epidemiológicas que reforçam a hipótese de relação causal entre a Doença e o Trabalho presente ou pregresso do segurado?; A resposta positiva à maioria destas questões irá conduzir o raciocínio na direção do Reconhecimento técnico da relação causal entre a Doença e o Trabalho.
Parâmetros que têm sido utilizados para avaliar sob o ponto de vista estritamente médico, a natureza e o grau da “deficiência” ou “disfunção” eventualmente produzidos por esta Doença“Deficiência” ou “disfunção” (“impairment”), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é “qualquer perda ou Anormalidade da estrutura ou Função psicológica, fisiológica ou anatômica”. Por exemplo, após um Acidente Vascular cerebral (AVC), a Paralisia do Braço Direito ou a Disfasia serão “deficiências” ou “disfunções”, isto é, sistemas ou partes do Corpo que não funcionam, e que, eventualmente irão interferir com as atividades de uma vida diária “normal”, produzindo, neste caso, “incapacidade”. Na Leishmaniose cutânea e/ou cutâneo mucosa, relacionada ou não com o trabalho, a Deficiência ou Disfunção, se houver, poderá incidir sobre a esfera funcional, propriamente dita, e sobre a esfera Estética. Na primeira, dependendo do grau de Comprometimento da Lesão e de sua localização, poderá haver prejuízo de movimentos e de outras funções relacionadas com as atividades diárias. Dor e prurido podem ser importantes. Após o Tratamento cirúrgico - se houver - poderão permanecer seqüelas de desfiguramento do Paciente e cicatrizes. O Dano estético, embora importante nesta doença, costuma não ser considerado incapacitante, muito menos incapacitante para o trabalho, tanto pela falta de critérios objetivos e pelo Caráter relativamente endêmico desta doença, como pelo Estrato social mais acometido no Brasil. Entre as várias tentativas para se organizar, sistematizar, qualificar e, se possível, hierarquizar (em bases semi-quantitativas) as eventuais deficiências ou disfunções, em bases objetivas, os critérios propostos pela Associação Médica Americana (AMA), em seus Guides to the Evaluation of Permanent Impairment (4a. edição, 1995), parecem-se úteis como referência nesta direção, e serão aqui mencionados, dada a inexistência de outros, na prática previdenciária brasileira. Outros critérios e “baremos” existem em outros países e mesmo recomendados internacionalmente, porém, a opção pelos critérios da AMA pareceu vantajosa e menos vinculada a tabelas quantitativas exageradamente rígidas e fortemente impregnadas com o viés médico-legal, em detrimento dos propósitos que norteiam o Sistema previdenciário brasileiro, aliás a própria lei e sua regulamentação. Assim, os indicadores e parâmetros levados em conta no Sistema da AMA organizam a Disfunção ou Deficiência causadas pelas dermatoses, e no caso, aplicáveis à Leishmaniose cutânea e/ou cutâneo-mucosa: Grau ou Nível 1 – Sinais e sintomas da Doença de Pele estão presentes, ou apenas presentes de Forma Intermitente; e não existe limitação do desempenho ou apenas limitação para muito poucas atividades da vida diária, embora a exposição a determinadas substâncias químicas ou agentes Físicos possa aumentar a limitação temporária; e não é requerido Tratamento ou Tratamento Intermitente. Grau ou Nível 2 – Sinais e sintomas da Doença de Pele estão presentes ou intermitentemente presentes; e existe limitação do desempenho para algumas atividades da vida diária; e Tratamento Intermitente a constante pode ser requerido. Grau ou Nível 3 – Sinais e sintomas da Doença de Pele estão presentes ou intermitentemente presentes; e existe limitação do desempenho de muitas atividades da vida diária; e Tratamento Intermitente a constante pode ser requerido. Grau ou Nível 4 – Sinais e sintomas da Doença de Pele estão constantemente presentes; e existe limitação do desempenho de muitas atividades da vida diária que podem incluir o Confinamento Intermitente dentro de casa ou de outro Domicílio; e Tratamento Intermitente a constante pode ser requerido. Grau ou Nível 5 – Sinais e sintomas da Doença de Pele estão constantemente presentes; e existe limitação do desempenho da maioria das atividades da vida diária que podem incluir o Confinamento ocasional ou constante dentro de casa e de outro Domicílio; e Tratamento Intermitente a constante pode ser requerido.
Informações necessárias para o pronunciamento médico-pericial sobre a existência (ou não) de “incapacidade laborativa” do segurando com Diagnóstico desta Doença“Incapacidade” (“disability”), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é “qualquer redução ou falta (resultante de uma “deficiência” ou “disfunção”) da Capacidade para realizar uma atividade de uma maneira que seja considerada Normal para o ser humano, ou que esteja dentro do Espectro considerado Normal ”. Refere-se a coisas que as pessoas não conseguem fazer. Por exemplo, após um Acidente Vascular cerebral (AVC), que produziu as “deficiências” ou “disfunções” acima referidas, a Pessoa poderá não conseguir caminhar, vestir-se, dirigir um automóvel, etc. Para fins previdenciários é valorizada a “incapacidade laborativa”, ou “incapacidade para o trabalho”, que foi definida pelo INSS como “a impossibilidade do desempenho das funções específicas de uma atividade (ou ocupação), em conseqüência de Alterações morfopsicofisiológicas provocadas por Doença ou Acidente. (...) Para a imensa maioria das situações, a Previdência trabalha apenas com a definição apresentada, entendendo “impossibilidade” como Incapacidade para atingir a média de rendimento alcançada em condições normais pelos trabalhadores da categoria da Pessoa examinada. Na Avaliação da Incapacidade laborativa, é necessário ter sempre em mente que o ponto de referência e a Base de comparação devem ser as condições daquele próprio examinado enquanto trabalhava, e nunca os da média da coletividade operária”. Portanto, para o pronunciamento médico-pericial sobre a existência (ou não) de “incapacidade laborativa” do segurado, é imprescindível considerar as seguintes informações: Diagnóstico da Doença; Natureza e grau de “deficiência” ou “disfunção” produzida pela Doença; Tipo de atividade ou profissão e suas exigências; Indicação ou necessidade de “proteção” do segurado doente, por exemplo, contra re-exposições ocupacionais a “agentes patogênicos” sensibilizantes ou de efeito cumulativo; Eventual existência de hipersuscetibilidade do segurado ao “agente patogênico” relacionado com a Etiologia da Doença; Dispositivos legais pertinentes (por exemplo: Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, ou de Órgãos da Saúde, ou acordos coletivos, ou profissões regulamentadas, etc.); Idade e escolaridade do segurado; Suscetibilidade ou potencial do segurado a readaptação profissional; Mercado de Trabalho e outros “fatores exógenos”. Em bases técnicas, a “incapacidade laborativa” poderia ser classificada em: Total ou parcial; Temporária ou indefinida; Uniprofissional; Multiprofissional; Oniprofissional. Contudo, a legislação previdenciária vigente não contempla todas estas alternativas, e se espera que o médico-perito se pronuncie sobre: A existência (ou não) de “incapacidade laborativa” no curto-prazo, com o correspondente Benefício previdenciário do “auxílio-doença”, como regulamentado pelos Arts. 71 a 80 do Decreto 3048/99. A concessão (ou não) de “auxílio-acidente”, “concedido, como indenização, ao segurado Empregado (...) quando, após a consolidação das lesões decorrentes do Acidente de qualquer natureza, resultar Seqüela definitiva” que se enquadre nas condições estabelecidas pelo Art. 104 do Decreto 3048/99. A concessão (ou não) de “aposentadoria por invalidez” devida ao segurado que, “estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o Trabalho e insuscetível de Reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência” , nas condições estabelecidas pelos Arts. 43 a 50 do Decreto 3048/99.
___ visceral, (B55.0) (ref. Guia de Vigilância Epidemiológica) Doença crônica sistêmica, caracterizada por Febre de longa duração e outras manifestações, e, quando não tratada, evolui para óbito, em 1 ou 2 anos após o aparecimento da Sintomatologia.
A Leishmaniose Visceral é, primariamente, uma zoonose que afeta outros animais além do homem. Sua transmissão, inicialmente silvestre ou concentrada em pequenas localidades rurais, já está ocorrendo em centros urbanos de médio porte, em Área domiciliar ou peri-domiciliar. É um crescente problema de Saúde pública no país e em outras áreas do continente americano, sendo uma Endemia em franca expansão geográfica.
Agente Etiológico: no Brasil, é causada por um protozoário da família tripanosomatidae, gênero Leishmania, espécie Leishmania chagasi. Seu Ciclo evolutivo é caracterizado por apresentar duas formas: a amastigota, que é obrigatoriamente Parasita intracelular em vertebrados, e a Forma promastígota, que se desenvolve no Tubo digestivo dos vetores invertebrados e em meios de culturas artificiais.
Reservatórios: no Brasil, os mais importantes reservatórios são o cão (Canis familiaris), e a raposa (Dusycion vetulus), que agem como mantenedores do Ciclo da Doença. O homem também pode ser Fonte de infecção, principalmente quando o Calazar incide sob a Forma de Epidemia. Os cães infectados podem ou não desenvolver quadro clínico da doença, cujos sinais são: emagrecimento, eriçamento e Queda de pêlos, nódulos ou ulcerações (mais freqüentes nos bordos das orelhas), hemorragias intestinais, Paralisia de membros posteriores, Ceratite com Cegueira e Caquexia. Pode evoluir para morte, nos casos mais graves. O Reconhecimento das manifestações clínicas destes reservatórios é importante para Adoção de medidas de Controle da Doença. Os canídeos apresentam intenso parasitismo cutâneo, o que permite uma fácil Infecção do mosquito, e, por este fato, são os mais importantes elos na manutenção da cadeia epidemiológica
Modo de Transmissão: a Leishmaniose Visceral é uma Antropozoonose transmitida pelo inseto hematófago flebótomo Lutzomia longipalpis, mosquito de pequeno tamanho, cor de palha, grandes asas pilosas dirigidas para trás e para cima, Cabeça fletida para baixo, aspecto giboso do Corpo e longos palpos maxilares. Seu habitat é o Domicílio e o peridomicílio humano onde se alimenta de Sangue do cão, do homem, de outros mamíferos e aves. As fêmeas têm hábitos antropofílicos, pois necessitam de Sangue para desenvolvimento dos ovos. Durante a alimentação, introduzem no hóspede, através da saliva, um peptídeo que se considera um dos mais potentes vasodilatadores conhecidos. Após 8 a 20 dias do repasto, as leishmanias evoluem no Tubo digestivo destes mosquitos, que estarão aptos a infectar outros indivíduos.
Período de Incubação: varia de 10 dias a 24 meses, sendo em média 2 a 4 meses.
Período de Transmissibilidade: não ocorre Transmissão direta de Pessoa a Pessoa. O homem pode transmitir a Doença através dos insetos transmissores, na condição conhecida como Leishmaniose dérmica pós-calazar. A principal Transmissão se faz a partir dos reservatórios animais enquanto persistir o parasitismo na Pele ou no Sangue circulante.
Suscetibilidade e Imunidade: a suscetibilidade é universal, atingindo pessoas de todas as idades e Sexo. Entretanto, a Incidência é maior em crianças. Existe resposta humoral detectada através de anticorpos circulantes. O Calazar é uma Infecção intracelular, cujo parasitismo se faz presente nas células do Sistema fagocitário mononuclear, com supressão específica da Imunidade mediada por células, que permite a difusão e a multiplicação incontrolada do parasitismo. Só uma pequena parcela de indivíduos infectados desenvolve Sintomatologia da Doença. A infecção, que regride espontaneamente, é seguida de uma Imunidade duradoura que requer a presença de antígenos, de onde se conclui que as leishmanias ou alguns de seus antígenos estão presentes no organismo infectado durante longo tempo de sua vida, depois da Infecção inicial. Esta hipótese está apoiada no Fato de que indivíduos imunossuprimidos (AIDS ou uso de drogas imunossupressoras) podem apresentar quadro de Calazar muito além do Período habitual de Incubação.
Aspectos Clínicos: as manifestações clínicas da Leishmaniose Visceral refletem o equilíbrio entre a multiplicação dos parasitos nas células do Sistema fagocítico mononuclear (SFM), a resposta imunitária do Indivíduo e as Alterações degenerativas resultantes desse Processo. Desse modo, observa-se que muitos dos infectados apresentam Forma inaparente ou oligossintomática da doença, e que o número de casos graves ou com o cortejo de Sintomatologia manifesta é relativamente pequeno em relação ao de infectados. Para facilitar o estudo pode-se classificar o Calazar da seguinte Forma: Inaparente - Paciente com sorologia positiva, ou Teste de leishmanina (IDRM) positivo ou encontro de parasito em tecidos, sem Sintomatologia clínica manisfesta. Clássica - cursa com febre, astenia, adinamia, anorexia, perda de peso e Caquexia. A hepatoesplenomegalia é acentuada, micropoliadenopatia generalizada, intensa Palidez de Pele e mucosas, conseqüência de severa Anemia. Observa-se Queda de cabelos, Crescimento e brilho dos Cílios e Edema de membros inferiores. Os fenômenos hemorrágicos são de grande monta: gengivorragias, epistaxes, equimoses e Petéquias. As mulheres freqüentemente apresentam Amenorréia. A Puberdade fica retardada nos adolescentes e o Crescimento sofre grande atraso nas crianças e jovens. Os exames laboratoriais revelam Anemia acentuada, leucopenia, Plaquetopenia (pancitopenia), hiperglobulinemia e hipoalbuminemia. Oligossintomática - a Febre é baixa ou ausente, a Hepatomegalia está presente, Esplenomegalia quando detectada é discreta. Observa-se Adinamia. Ausência de hemorragias e Caquexia. Aguda - o início pode ser abrupto ou Insidioso. Na maioria dos casos, a Febre é o primeiro sintoma, podendo ser alta e contínua ou intermitente, com remissões de uma ou duas semanas. Observa-se hepatoesplenomegalia, adinamia, perda de peso e hemorragias. Ocorre Anemia com hiperglobulinemia. Geralmente não se observa Leucopenia ou Plaquetopenia. Refratária - na realidade é uma Forma evolutiva do Calazar clássico que não respondeu ao tratamento, ou respondeu parcialmente ao Tratamento com antimoniais. É clinicamente mais grave, devido ao prolongamento da Doença sem resposta terapêutica. Os pacientes com Calazar, em geral, têm como Causa de óbito as hemorragias e as infecções associadas em virtude da debilidade física e imunológica.
Notificação compulsória (Fundação Nacional de Saúde).
Necessidade de imunização contra a leishmaniose, (Z26.0)