Empurroterapia

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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As condições episódicas do desabastecimento do País afetam, de modo indelével, até mesmo a Relação médico-paciente. A falta de Medicamentos nas farmácias desencadeia uma maneira pitoresca ou até esdrúxula de receitar. O bom médico sabe que a receita deve conter o mínimo, porém, todos os remédios absolutamente necessários a seu Paciente. Tal Procedimento é de tal maneira ensinado nas boas universidades que qualquer médico competente pode, muitas vezes, ao olhar de relance a receita de outro profissional, saber, apenas pelo número de remédios prescritos em uma só receita, de sua competência e até mesmo de sua idoneidade. Quem receita muito está desorientado. É como se estivesse dando um tiro de Chumbo. Tais ministrações servirão apenas para fazer verdadeira química no Paciente. As circunstâncias freqüentes em que se encontra o mercado de Medicamentos está, maleficamente, interferindo na maneira tradicional de o médico receitar. A bem distribuída e completa falta de medicamentos, conseguida pela inteligente e patriótica política de abastecimento do essencial para a existência do brasileiro, conseguiu, como efeito secundário, mas não menos importante, prejudicar também a maneira convencional do exercício profissional do médico. Hoje a receita precisa ser diferente, fugindo do modelo clássico. O médico prescreve o Produto que acha conveniente para seu doente e, a seguir, indica também algumas alternativas para que, no Caso de não ser encontrado o primeiro produto, já deixar sabida de antemão sua preferência quanto a eventuais alternativas. Essa medida é para reprimir, pelo menos parcialmente, a tendência do balconista de Farmácia que sempre deseja dar palpite, empurrando outro Produto. Com a falta de quase tudo, os balconistas estão se esbaldando, pois empurram gato por lebre. Hoje eles já estão, graças à oportunidade que o governo lhes propiciou, oficialmente opinando quanto ao Produto a ser levado. Para facilitar sua tática de venda, por malícia ou, na melhor das hipóteses, por ignorância, dizem ao Paciente que o Remédio não é mais fabricado, alegando que agora já existe outro bem melhor. Tal frase é malévola e abala a confiança do Paciente em seu médico. Os vendedores mais conscientes, e existem muitos, oferecem o telefone ao doente para que indaguem de seu médico sobre as possibilidades de substituições. Assim, horas depois, o médico tem que relembrar o Caso para receitar diante da Carência dos Medicamentos. Ele então prescreve o que pode ser encontrado e que nem sempre é o que, exatamente, o Paciente precisa. Torna-se desagradável prosseguir a consulta, com a Agravante de ser feita à distância, tendo então o médico de retornar à ficha para alterar o que foi anotado. Tais fatos dificultam muito e, pior, aumentam a aflição do Paciente e de seus familiares, que acabam achando que ele não está tomando o Remédio adequado para o seu Caso. E, muitas vezes, não está mesmo! Além do tumulto que esse Fato está causando na problemática da Assistência ao doente, muitos malefícios decorrem dessa mesma política. Lembre-se somente uma Circunstância da série de numerosas outras em que cada médico, hoje, pode relacionar sem nenhum esforço de Memória. Os asmáticos passam noites acordados sem conseguir respirar o pouco Oxigênio que resta desse ar todo poluído que nos é dado, os que têm convulsões, os parkinsonianos ou os diabéticos que se descompensam por não encontrar os Medicamentos com os quais convivem num equilíbrio instável, e muitos outros. A do Paciente com Trombose venosa profunda, comumente chamada flebite, se não for tratada adequadamente, põe em grande Risco a sua vida. Tal Perigo é conhecido de todos e creio que também o seja até mesmo pelos responsáveis pelo desencadeamento da Crise atual. O Tratamento da Trombose venosa profunda, assim como pacientes com próteses mecânicas valvares cardíacas ou portadores de valvopatias com arritmias cardíacas necessitam manter o Estado de coagulação do Sangue em níveis inferiores aos normais, durante longos períodos ou mesmo por toda a vida. O êxito do Tratamento depende da rigorosa observância desse Procedimento. A adequação da Posologia do Anticoagulante para cada Caso exige muito do médico, do Paciente e do laboratório. De início, encontrar a Dose ideal para aquele doente requer exames repetidos. A manutenção dos valores desejados obriga sua repetição periódica e sempre no mesmo laboratório, para que os parâmetros de comparação não variem. O cuidadoso Controle deve ser cada vez mais apurado pelo Fato de a Suspensão abrupta da medicação desencadear tendência à Trombose e, assim, provocar agravamento do quadro com recrudescimento do Processo e, então, com grande Perigo de ocorrerem também Complicações. Cabe lembrar que algumas destas, as embolias, podem ser fatais e, quando não o são, raramente há restitutio ad integrum, deixando sempre seqüelas que prejudicam a Qualidade de vida de sua vítima. Imagine o leitor, se depois de toda a meticulosa adequação da Droga ao paciente, tendo em vista as respostas fisiológicas que dependem da natureza de cada um, o Produto é substituído a critério do balconista! Cabe, para finalizar, uma indagação: será que os constituintes, diante de manifesta preocupação com matéria adjetiva vão encontrar tempo hábil para lembrar dos doentes deste vasto hospital? Caso não cheguem a ter essa preocupação que, pelo menos, não alterem o artigo 107 da atual Constituição, que trata de Responsabilidade do Poder Público em razão de danos causados por ação ou omissão. O referido artigo, dessa velha e mal falada Carta Magna, ainda era o único Instrumento eficaz, embora pouco utilizado, na preservação e na garantia dos direitos das vítimas quanto ao ressarcimento, ainda que material, dos danos que, como os descritos, estão sendo causados aos doentes. Esperemos que o Código do Consumidor seja educativo e tenha ação preventiva para que, utilizando acesso agilizado ao Judiciário, propicie subsídios para sanar esse mal. Resta saber se para o doente viver e não para reparar materialmente a perda do ente querido.
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