Homeopatia

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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A Associação Médica Brasileira reconheceu, em 1979, a Homeopatia como especialidade e o Conselho Federal de Medicina a incluiu, em 1980, no rol de suas especialidades e, em 1989, ratificou essa decisão. Em que pese todos esses fatos, a Associação Paulista de Medicina só recentemente aceitou a idéia de formar um comitê, após plebiscito, para o qual foram convocados 783 eleitores, dos quais votaram apenas 331, com 210 favoráveis, 102 contra e 19 abstenções. Esse Fato mostra a Resistência que a classe oferece quanto a sua aceitação. Entretanto, procurando o fundamento científico utilizado para sua aprovação, foi-me dado o artigo “Homeopatia: ontem, hoje e amanhã” (Rev. Ass. Med. Brasil, vol. 29, nos. 11-12, nov./dez, 1983), do Prof. E.A. Carlini, Titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, que reproduz sua conferência proferida na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Belém, da qual transcrevo alguns excertos: “Para que se entenda a Homeopatia é indispensável fazer um apanhado histórico dos últimos 200 anos, iniciando-se pela época em que Hahnemann formulou esta corrente terapêutica. Este médico alemão começou a lançar as bases da Homeopatia em 1790, quando traduzia a Matéria Médica de William Cullen, Professor da Universidade de Edimburgo - Escócia. Hahnemann não ficou convencido pela explicação de Cullen, atribuindo os efeitos da Quina (de onde, posteriormente, se extraiu o antipalúdico quinina) a uma ação ao nível do Estômago. Experimentando ele próprio a quina, Hahnemann teria ficado surpreso de que os efeitos sentidos eram semelhantes àqueles que apareciam na própria Doença que a Quina curava. A partir daí inicia experimentação com muitos produtos vegetais, animais e minerais, em homem são, e a partir dos efeitos obtidos indicava as substâncias para as doenças que apresentassem aqueles efeitos. Seis anos mais tarde, em 1796, publica o seu famoso Princípio Similia similibus curantur, ou seja, que o semelhante se Cura pelo semelhante. Prosseguindo em seus estudos, em 1800, Hahnemann lança a doutrina da dinamização, ou seja, que os Medicamentos homeopáticos são mais ativos à medida que vão sendo diluídos. Em 1810 publica a sua obra fundamental, o Organon. O sucesso de Hahnemann em Leipzig foi enorme, tanto assim é que em 1823 foi obrigado a deixar a cidade, devido à Hostilidade contra ele, oriunda dos interesses prejudicados dos boticários e Médicos locais. Ainda hoje a Homeopatia se baseia nos princípios estabelecidos por Hahnemann. Assim a Farmacopéia Homeopática Brasileira, 1a. edição, 1977, cita os quatro princípios que fundamentam a Homeopatia: 1- experiência no homem são; 2- o semelhante seja tratado pelo semelhante; 3- doses mínimas; 4- único remédio, embora este quarto Princípio não seja aceito por todos os homeopatas”. O mesmo autor destaca algumas críticas à Homeopatia e diz: “Paradoxalmente, a medicina oficial, empírica e sem amparo em qualquer dado experimental, procurou negar valor à experimentação, sem dúvida um dos grandes méritos da Homeopatia na época, sendo mesmo que muito se fica a dever a Hahnemann por este Fato. Outra crítica contundente é a de Lord Lister, o descobridor da antissepsia, em carta dirigida ao Príncipe de Gales em março de 1898: ‘A doutrina essencial da Homeopatia é independente da questão de Dose. E pode ser livremente aceito que a prática homeopática com doses infinitesimais dá uma lição útil à profissão médica por chamar a Atenção para a grande verdade de que a natureza é a grande curadora de doenças, de tal maneira que uma grande proporção de pacientes se recupera sem qualquer espécie de Remédio. Pois dar uma Dose infinitamente pequena de algo é o mesmo que não dar nada; e mesmo assim freqüentemente os pacientes melhoram ao tomarem glóbulos que contêm apenas açúcar, além de receberem bons conselhos sobre dietas e regimes’. No nosso século o Farmacologista A.G. Clark, no seu livro Applied Pharmacology, 8a. edição, 1933, assim se refere à Homeopatia: ‘De 1829 em diante Hahnemann recomendava que a administração de todas as drogas fosse feita empregando-se a 30a. potência, isto é, na concentração de 1 para 10. Tal diluição corresponde à presença de uma molécula da Droga ativa numa esfera de circunferência igual à Órbita de Neptuno’.
Foi tão longe o pai da Homeopatia, que chegou a atribuir à Psora a Causa de praticamente todos os males, da loucura ao Câncer. É, portanto, fácil perceber que uma Pena brilhante como a de Holmes encontrasse, nesse conceito de Psora, abundantes argumentos para atacar a Homeopatia. Mas ainda hoje, a Psora é discutida entre os homeopatas. Oliver Holmes ainda fez mais: chegou a experimentar algumas das substâncias que Hahnemann havia pesquisado, e entre elas o Ácido clorídrico. E meticulosamente descreve os efeitos produzidos, negando que os mesmos fossem semelhantes àqueles descritos por Hahnemann. Para a Homeopatia ortodoxa não existem doenças e sim doentes. Frases como: ‘... não existem tuberculose, Úlcera gástrica, Asma... há apenas doentes que apresentam sinais de tal ou qual remédio’ e, ‘o mesmo Remédio (Bryonia alba) pode curar - dependendo das circunstâncias - um doente de pleurisia, outro de meningite, outro de bronquite, outro de Reumatismo articular agudo’, poderam ser aceitas na época em que ainda a ciência nada sabia sobre a Etiologia das doenças, mas, com a descoberta, por exemplo, do Meningococo e do Bacilo de Koch, realmente, não têm mais cabimento. Mas talvez a maior crítica sobre a Homeopatia refira-se à chamada dinamização, ou potenciação ou diluições. Todos nós sabemos hoje que a matéria, seja animal, vegetal ou mineral, é constituída por moléculas e que existe o mesmo número de moléculas em cada molécula-grama de qualquer matéria. Ora, a Homeopatia vai diluindo progressivamente os seus remédios, por exemplo, 1ml de uma diluição de 99ml de Água; após agitação, toma-se 1ml desta nova diluição e coloca-se em 99ml de Água...) até o ponto em que, numa certa diluição, não mais existe sequer uma molécula da Substância original. E a partir daí, vai-se misturando 1ml de Água com 99ml de água, agita-se, etc... Ou seja, o Paciente toma apenas o Veículo inerte em tais condições. Como explicar então o efeito terapêutico? Obviamente, explicações como: ‘As modificações quantitativas (das diluições) fazem com que a matéria em um salto passe para um novo Estado adquirindo uma nova Qualidade que cabe à física explicar. - A explicação segundo a qual tal Fenômeno ocorre de acordo com a lei dialética, da passagem das modificações quantitativas em um salto para uma nova Qualidade...’ não satisfaz a ninguém, admitindo-se que não há até hoje dados comprobatórios de tais alegações. Assim, acredito que a aceitação cega das explicações e teorias dadas por Hahnemann e seus seguidores ao sucesso terapêutico da Homeopatia e a Ausência da crítica, sempre necessária na ciência, foram as causas mais importantes da Queda que esta modalidade terapêutica sofreu no nosso século. Parece ser uma desculpa fácil afirmar-se que a indústria farmacêutica, principalmente a multinacional, seja a responsável. Aliás, já no começo do século XX, o Journal of the Americam Intitute of Homeopathy do dia 10 de junho de 1910 advertia em Editorial sobre a estagnação da Homeopatia: ‘A Homeopatia não avançou desde os dias de Hahnemann. Entretanto, ao longo de todo o século passado a alopatia revolucionou a sua prática. Assim, cada Área da medicina está sendo julgada pelos seus reais méritos e as Escolas Homeopáticas não conseguem competir com as Escolas Médicas Ortodoxas.’ Além disso a Homeopatia dividiu-se em correntes, sendo que uma delas, a Unicista, que ainda adere ao quarto fundamento (um único remédio), intransigente e ortodoxamente se atém aos princípios enunciados há quase 200 anos atrás, ignorando o imenso Progresso do conhecimento humano neste Período. Creio advir daí posturas inaceitáveis, como a de rejeitar as vacinações. Ignorar que as vacinas, conquista da humanidade, erradicaram a Varíola da Face do planeta e que, brevemente, farão desaparecer a Paralisia infantil não é conduta a merecer elogios. Pelo exposto até agora, poder-se-ia concluir que eu não acredito que a terapêutica homeopática tenha qualquer validade ou ação curativa! Mas não é bem assim! Quando uma terapêutica resiste por dois séculos a todas as formas de críticas e ataques, com milhões de pessoas absolutamente convictas de que foram curadas, e é exercida por Médicos de honestidade absolutamente inatacável, é muito difícil dizer-se que ela é uma quimera ou fantasia. Acredito então que, por simples razão de lógica, não podendo ignorar a realidade, devemos aceitar que existe o Fato da Eficácia terapêutica da homeopatia, pelo menos para uma série de moléstias crônicas”. A Homeopatia tem tido êxito mais nas doenças crônicas do que nas agudas e ajuda o doente a Conviver com a Doença. É fundamental que o homeopata saiba o Limite de suas possibilidades e não prive o Paciente das oportunidades a que ele tem Direito na medicina convencional e na Cirurgia moderna. A forte crítica que existe consiste em admití-la como Tratamento substitutivo para aqueles casos que, comprovadamente, têm boas perspectivas, com possibilidade de melhor Qualidade de vida para o Paciente. É fundamental que o médico homeopata não procrastine o Tratamento adequado, para que o Paciente não perca o tempo útil que a sua Doença lhe concede. Não se permite alimentar esperança para Cura de processos fora dos limites da competência de cada profissional. Erros cometidos com essa justificativa ficam enquadrados como Imperícia.