Doente desconhecido

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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(ref. Comportamento do paciente) é muito freqüente em Cirurgia de urgência o cirurgião não conhecer o Paciente e nem este o cirurgião. Em momentos melancólicos entrega sua vida nas mãos de Médicos desconhecidos. Os plantões de Pronto Socorro contam geralmente jovens Médicos em fase de aprendizado, o mais das vezes supervisionados ou com o respaldo de alguém mais experiente. Embora a sistemática do atendimento seja esta, não é assim que se apresenta ante o Paciente e seus familiares. Estes só vêem o jovem que diretamente atende o doente.
No que diz respeito ao médico, esta é a verdadeira maneira de formar o jovem. Ele aprende a assumir, progressivamente, a Responsabilidade do atendimento. Ele sente seu peso. O apoio do mais experiente nas decisões dá ao jovem segurança e garante ao doente Tratamento correto.
Poucos são aqueles que, não tendo, de alguma forma, vivido o cotidiano de um Pronto Socorro, têm condições de entender a incumbência das atribuições, a maneira de trabalhar e, às vezes, a aparente Alienação do médico envolvido em tanto sofrimento.
Há uma crença geral de que o médico, com o decorrer do tempo, torna-se insensível à dor do próximo. Não é a realidade. A sua Sensibilidade não fica anestesiada, ao contrário, ela se exacerba. Talvez ele, com o decorrer do tempo, adestre cada vez mais sua Capacidade de partilhar o sofrimento alheio, servindo de amparo para transmitir coragem e não chorar junto, de maneira a exacerbar a dor.
O Doente desconhecido é um semelhante. Um de nós poderá eventualmente ser vítima de Acidente ou mal súbito fora de nosso Ambiente e não ser identificado imediatamente. Nesta hipótese estaremos em situação idêntica ao daquele que chega ao Pronto Socorro sem Identidade. Tal Fato faz que mais uma vez o médico tenha um momento de reflexão e pense nas circunstâncias que envolvem a vida daquele que não está em condições de identificar-se.
Por analogia, Trago para o atendimento de urgência as lições do Prof. Renato Locchi, na aula inaugural do curso médico, quanto ao respeito ao Cadáver. No anfiteatro da Anatomia, à MEIA luz, descobria o Cadáver de uma negra de vinte e cinco anos, com o qual o Prof. Bovero, há algumas dezenas de anos antes, havia dado sua primeira aula e dizia: este Corpo é de alguém que, em vida, talvez tivesse sido oneroso à sociedade mas que, depois da morte, estava pagando sua dívida, e possibilitava em seu Corpo o estudo para formar Médicos.
O Equivalente ocorre no Pronto Socorro de Hospital de ensino. Gerações de jovens Médicos são treinados, através dos tempos, graças ao Infortúnio de muitos.