Especialização e progresso

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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O Progresso da medicina tem sido grande, tanto no que concerne aos processos diagnósticos como quanto ao que diz respeito aos métodos terapêuticos. Os primeiros têm-se mostrado subordinados à preocupação constante de propiciar condições para o diagnóstico, preservando o doente do desconforto e do Risco de vida ou de adquirir Doença iatrogênica. Evidentemente, uma das muitas causas a conduzir o desenvolvimento da Propedêutica médica armada a seguir esse caminho deve ter sido a Consciência de Responsabilidade profissional. Não se concebe morrer nem mesmo apanhar outra Doença na tentativa de fazer um Diagnóstico. Este e outros fatores, com o vertiginoso Progresso científico e tecnológico, propiciaram, nesta década, o desenvolvimento rápido de um chorrilho de exames que no conjunto constituiu um capítulo novo dentro da Propedêutica médica, que se convencionou chamar de métodos não-invasivos, por não agredirem o Paciente. A incursão da tecnologia na seara médica revelou uma tentativa para substituir o médico pelo computador na tomada da História clínica e até mesmo para elaborar o exame físico do Paciente. O malogro decorreu do Fato de a máquina não conseguir transmitir o Calor peculiar ao humano. Assim, pelo menos uma Parte do exame do Paciente tem-se mantido constante através dos tempos. A elaboração da Observação médica propicia, pelo Contato pessoal, frente a frente, o forte vínculo médico/paciente, tão benéfico no êxito do Tratamento. Este relacionamento é, indubitavelmente, o maior gerador de forças de que o doente dispõe para suportar o convívio com o Infortúnio. Toda essa explanação visa a hierarquizar os valores dos dados obtidos pela Anamnese e pelos exames físico e complementares, bem como, alertar o jovem médico para que, havendo divergência de resultados, lembrar que a clínica é soberana. A Beleza de muitos dos exames modernos, bem como a engenhosidade de sua Técnica e a revelação clara de dados sobre a Função dos Órgãos e a visualização das estruturas encantam a todos. Essas características propiciam a conquista progressiva e rápida de espaço para esses exames na prática médica cotidiana. Há, para o doente, um perigo, tais exames poderão vir a ser feitos sem a prévia execução de correto e minucioso exame clínico e serem solicitados indiscriminadamente sem adequada justificativa, portanto, sem necessidade. No dizer de João Carlos Simões, Presidente da Associação Médica do Paraná, “deve-se ter sempre em mente que nenhum resultado laboratorial pode substituir um bom exame clínico, nem contrariar um raciocínio médico correto”. O mesmo autor atribui às Escolas Médicas a “mania tecnicista começa nas escolas de Medicina - como escreveu o Professor Jesus Camargo, da UFRGS - que tem aumentado o aporte de conhecimentos Técnicos mas, lamentavelmente, se omitido na missão indispensável de ensinar a arte de ser médico. E sem nenhuma justificativa plausível, os hospitais universitários se cercam de tecnicismo - com diagnósticos corretos, evidentemente, mas sem a necessária contrapartida de uma Análise racional para o volume exacerbado de pedidos de exames de rotina, mesmo que outros tenham sido feitos recentemente”. Ainda diz Simões que tal Procedimento “gera a falsa e mística sensação de se estar praticando uma medicina moderna, atualizada, segura e eficiente. Em verdade, trata-se de uma medicina desvirtuada, sem lógica e sem respeito ao doente”. O exposto mostra a necessidade de o médico atualizar permanentemente seus conhecimentos, aguçar seu juízo Crítico para aceitar as novidades que a tecnologia tem produzido a título de Progresso e, principalmente, de sempre examinar de maneira completa e minuciosa o doente e, também, sabendo ouví-lo com calma e Atenção. O alerta maior, entretanto, é para que se tenha em mente que, na intimidade do fator gerador do progresso, poderá estar oculto o Germe da regressão intelectual como lembrou Ignácio Chavez ao abrir, em 1958, o 3° Congresso Mundial de Cardiologia, em Bruxelas. Enquanto o grande Progresso da teoria se deve à extrema Especialização do pesquisador sente-se que, quando de sua aplicação na prática, há um Risco decorrente da suficiente Análise crítica por falta de conhecimento profissional da nova idéia e às vezes da imaturidade do especialista. Neste ponto está o efeito perverso da Especialização. O Hábito de não examinar o doente de maneira sistemática impede o desenvolvimento das habilidades de: na anamnese, ouvir e Reconhecer os sintomas da História natural da Doença; no exame físico, ver e enxergar, palpar e sentir, auscultar e ouvir. Assim, progressivamente o médico perde a Capacidade de raciocinar, com os sintomas e sinais, para fazer o Diagnóstico clínico.