Humanização da medicina

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Em 1965, quando publiquei com o Prof. Alípio Corrêa Netto um livro Guia do Residente, pedi ao Dr.Ary Lex que escrevesse algumas palavras no Sentido de alertar os jovens quanto à necessidade de, durante toda a vida profissional, preservarem de Forma permanente, o Trato humano para com o doente e seus familiares. Aquelas palavras foram tão próprias que, ainda hoje, três décadas mais tarde, parecem ainda mais adequadas. Vão gravadas a seguir: “O Hospital das Clínicas não é apenas um Hospital de importantes estudos e pesquisas. Não é apenas a grande escola pela qual têm passado, nele fazendo seu aprendizado, milhares de estudantes e de jovens Médicos. Ele é, também, um Hospital de assistência, buscado por doentes de todos os rincões de nossa Pátria, última esperança para aqueles desenganados de todo Tratamento. O problema médico é, em nossa terra, um problema social. A Doença caminha parelha com a miséria. O doente tem de buscar os hospitais de caridade, públicos ou particulares. Enfrenta as filas imensas, pois é imensa a multidão dos deserdados da fortuna. Submete-se a longas esperas. Freqüentemente é mal atendido por funcionários cujos nervos se abalaram com o volume de serviço e com o irritante Contato com o público. Após peregrinação pelos ambulatórios, onde se submete a exames clínicos, radiológicos, laboratoriais; após longa espera pela sua tão almejada internação, consegue, afinal, um leito. Nesse momento, sua Personalidade perde valor para os que o rodeiam. Passa a ser o leito ‘x’, o Caso interessante, que será discutido na reunião, de permeio a filigranas de dosagens analíticas e exibição de profundos conhecimentos científicos. Nenhum elemento emocional o liga aos Médicos que o rodeiam, pois êstes se esquecem, amiúde, de que, acima das fraquezas físicas, estão as necessidades primordiais do espírito. Por isso, junto à palavra de orientação, junto aos conselhos que os colegas mais velhos da 1a. Clínica Cirúrgica levam aos residentes, aos jovens colegas cheios de entusiasmo e de idealismo, não poderá faltar o apelo à luta pela Humanização da medicina. O médico humanizado vê, no doente, não apenas o Caso clínico, a máquina que apresenta transtornos. Não sente apenas a necessidade de propiciar-lhe alívio às dores e buscar a normalização das funções. Nesse doente de Corpo chagado, de Órgãos lesados, reconhece o ser humano. Compreende, nele, o sofredor que tanto Direito tem aos Cuidados e aos desvelos quanto seus próprios pais e Irmãos carnais. Êsse doente deixa de ser um Caso clínico anônimo, deixa de ser o objeto de estudo e de pesquisas, para ser o sofredor que tanto necessita de remédios, quanto de consôlo e de compreensão. Assim sentindo, o médico, cônscio de seus deveres, liberta-se das mesquinhas relações, puramente comerciais ou gelidamente científicas, para viver a grande luta pela recuperação da Saúde e da vida do doente. Não importa que o doente não possa pagar. Importa, apenas, assistir a quem precisa de Cuidados. Que nossos doentes sintam, de nossa parte, não só o Interesse pelo seu Caso clínico, mas, também o Calor humano, o Interesse que se tem pela Saúde e o bem estar de um sofredor”.