Especialidade, como nasce uma

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Vou apresentar três exemplos de aparecimento de especialidade. Aproveitarei para relatar os fatos como se passam em diferentes áreas. Tratarei, em primeiro lugar, da Cirurgia Vascular, hoje uma especialidade consagrada; a seguir, da Terapia Intensiva, que só foi reconhecida recentemente. Em último lugar, fazendo um exercício mental, vou prever o aparecimento de uma especialidade indicando seus Pródromos.
1 - Cirurgia Vascular - Os doentes estavam sendo Cuidados por Médicos de várias especialidades. As Varizes eram operadas pelos cirurgiões gerais; as gangrenas eram tratadas com amputações feitas pelos ortopedistas e as simpatectomias eram feitas pelos neurocirurgiões. O que ocorreu? Procurou-se um denominador comum entre os pacientes deste grupo e foi encontrado. Era o vaso que estava doente. Os doentes foram, então, reagrupados e passaram a ser tratados pelo médico que estuda as doenças dos vasos; assim nasceu a Cirurgia Vascular.
2 - Terapia Intensiva - A Assistência médica é cada vez mais onerosa e especialmente nos casos graves é tudo muito mais Caro ainda. Não há no Brasil Viabilidade de se colocar uma enfermeira diplomada ao lado de cada doente grave, durante as vinte e quatro horas do dia. Os casos graves também exigem Médicos bem treinados, capacitados a tomar prontamente decisões sérias. Além de recursos humanos altamente qualificados, há grande quantidade de exames e aparelhos muito sofisticados e de manuseio difícil. A racionalização do Trabalho para atendimento desses pacientes exige o agrupamento deles de Forma tal que os recursos humanos e Materiais sejam otimizados. Assim apareceu o Intensivista - o médico que trabalha em Terapia Intensiva.
3 - Há cardiologistas que se interessam particularmente por problemas do Coração em criança, na qual, entre outras, aparecem doenças congênitas. Esta subespecialidade, ou talvez até melhor se diria, super especialidade, está sendo chamada de Cardiologia Pediátrica, a exemplo do que ocorre com a Neurologia Pediátrica, que já é uma especialidade consagrada. O número de integrantes ainda é pequeno. Não há consenso acerca da formação ideal dos novos profissionais nesse campo. Discute-se se os novos elementos devem ter a formação básica do cardiologista que, pelo Fato de cuidar de criança, deva aprofundar seus conhecimentos em Pediatria ou se, por outro lado, deve ser um médico de formação pediátrica que se aprimora em Cardiologia. Seja como for, quem a esse assunto se dedicar deve conhecer profundamente as duas especialidades.
Acredito ser necessário o revigoramento do Sistema de Treinamento e da Especialização do médico. Só vejo uma Solução para atingir esse objetivo: intensa luta das Sociedades Especializadas para atualização de seus sócios, das Universidades e de cada médico, no Sentido de promover e estimular o aprimoramento permanente, com conseqüente valorização da classe.
Com toda a quantidade do conhecimento que hoje é exigido do médico, ele deve saber o que pode não saber, e deve estabelecer as prioridades do que deve saber. Assim posto, ao lado de uma grande tenacidade individual, o médico de hoje poderá voltar a ser como o de antigamente: homem culto, só que dominando uma determinada Área do conhecimento.