Tatuagens

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Desde a primeira vez que o homem modificou voluntariamente a própria pele, para adornar-se, cujo acontecimento se deu em diferentes lugares ao mesmo tempo, foi com a finalidade de se exibir e ostentar, perante os outros membros de sua coletividade, pela via do enfeite, que é a mesma da fraude, na luta pela vida. Na espiral evolutiva os seres inferiores lutam para sobreviver pela força bruta ou pela Fraude. Nesta última modalidade, o sapo incha o papo para parecer maior e amedrontar o inimigo: a libélula fica imóvel para assemelhar-se ao galho e não ser predada pelo pássaro: o camaleão muda de cor para não ser percebido etc. A tatuagem é um Atavismo dessa via da Fraude. Enfeitar, em última análise, é desculpar defeito, é uma falsidade, pois camufla. A palavra tatuagem vem de James Cook, que criou o termo tattoo. Era um Marinheiro que esteve em 1.769 no Taiti, e notara nos nativos pinturas corporais, que chamavam de tattow em sua Língua. A palavra percorreu a Europa, naturalmente por dissiminação feita por Cook e vem de tatau, som onomatopéico do ato de tatuar, no entender do jornalista estudioso Toni Marques: “Os taitianos usavam uma espécie de pequeno ancinho de jardinagem, feito de cabo de madeira e pente de Osso humano, que serrilhavam na borda para que ficasse Dentada. Sobre o ancinho batiam com um pedaço de pau. Repetidos golpes de Martelo no topo do ancinho produziam o tatau que os nativos usavam para designar a ação. A Raiz da palavra ta, significa golpear, bater”. O pica-pele pode ser feito manualmente ou por máquinas. A primeira, elétrica, data de 1.891, inventada por Samuel O’Reilly. A grande maioria dos tatuadores ocidentais eram nômades, viajantes dos sete mares: paravam de porto em porto, juntavam algum dinheiro e partiam para outros mundos, até que no final do século XIX, em Nova York e Detroit, começaram a surgir as lojas de tatuagem. A primeira na América do Sul foi no Brasil, no porto de Santos, em 1.959, do dinamarquês Knud Harold Likke Gregersen, que ficou conhecido “no Brasil e no mundo, como Tattoo Lucky, falecido em 1.983, com cinqüenta e cinco anos de vida e de tatuagem”. Tattoo Luky, em entrevista ao jornal o Globo, disse: “Os homens querem ser tatuados por dois motivos principais: a fé e o amor, Amor às mulheres, ao país, à profissão. Mas existe outro motivo: o exibicionismo ruim, dos violentos, que acham tatuagem Marca de valentia. As mulheres tem um motivo próprio: a vaidade. Os jovens tem igualmente uma razão própria: eles são diferentes, querem se mostrar, porque não se envergonham de seus corpos: ao contrário, gostam deles”. Vaidade, exibicionismo, valentia, Amor a mulheres, a pátria, a profissão, cravados no Corpo em cortiços de cais, são marcas de manifestações de impulsos e de apetites pervertidos. O estudo da tatuagem guarda muita proximidade, e dele não se separa, com o estudo de outras marcas corporais, como, por exemplo e muito em moda hoje em dia, o branding (marcas produzidas por lâmina incandescente) e o piercing (objetos metálicos colocados, por furo, no corpo). Com o passar dos anos mudaram as técnicas, os desenhos, mas, em verdade, as motivações são sempre as mesmas. Vale a Pena lembrar que é maior o número de tatuados entre os presidiários reincidentes, e muitas vezes as marcas são símbolos que se repetem, usadas para Identificação com o grupo ao qual pertencem: pintas no Rosto são próprias dos homossexuais, líderes de Quadrilha usam o signo de Salomão, pintas e cruzes nos dedos, em determinado número e posição, dizem respeito a ladrões e assassinos; os estupradores tem Pênis nas Costas. É a arte das prisões. Essas marcas valem muitas vezes como sintomas pregressos de distúrbios do comportamento, verdadeiros comemorativos, dados biográficos que podem até estar relacionados com os desenhos em série que os penitenciários fazem costumeiramente nas paredes das celas, representando os fatos importantes e decisivos em suas vidas. Talvez a falta de tatuador ou a covardia perante a dor física respondam pela pintura mural, malgrado coexistam freqüentemente. Peixe-espada, tubarão, gaivota, sol, flores, são usados pelos surfistas. Sereia, águia, tigre, dragão, são tradicionais dos anos 70. Caveiras e temas macabros são próprios de motoqueiros e certas “tribos” urbanas. Estrela, ying-yang, cogumelo, e as ditas Tatuagens tribais (desenhos indefinidos, assimétricos, cheio de pontas, vindos de ornéu) são encontrados em toxicômanos. Escorpião, borboleta, lua, beija-flor, são temas de prostitutas. Punhal, revólver, coração, âncora, iniciais, nome de mulher, inscrições “Amor de Mãe”, santos e santas, em presidiários e alienados mentais. Bandeira, Rosto de atriz ou ator, escudo de time de futebol, são próprios dos fanáticos. Cruz, crucifixo, São Jorge, são encontrados nos místicos. A tatuagem, uma vez feita, não pode mais ser removida, salvo por meio de Cirurgia Plástica e de uma Forma ainda não totalmente perfeita, desde 1.990, pelo Laser de rubi, que bombardeia as moléculas de pigmento, visando destruí-las (sai a tatuagem mas fica um borrão). Ano passado o Governo do Estado de São Paulo promulgou a Lei 9.828/97, que proíbe fazer tatuagem ou colocar piercing em menores de 18 anos, sob Pena de fechamento definitivo do estabelecimento. Pretende preservar o jovem de uma atitude impensada e inoportuna, considerando o número de arrependidos, que se tatuaram na Menoridade. A verdade é que essa medida vai incrementar o mercado clandestino de lojas de Tatuagens para menores. Segue a Classificação das tatuagens, inspirada em Nicolau e Nina Minovici, com modificações nossas: quanto à vontade do tatuado: voluntária e involuntária; quanto ao tatuador: auto-tatuagem e hetero-tatuagem; quanto ao aspecto: coloração (monocromada, bicromada e policromada), aparente (braço, perna, rosto, mão etc.), oculta (região pubiana, axilas, mucosa, bucal etc.); quanto ao número: monotatuagem e politatuagem; quanto ao grau de desenho: pueril, vacilante e evoluído; quanto ao Processo ou Técnica: punturas, punturas mecânicas, incisões, ulcerações, queimaduras; quanto à Forma: desenhos, inscrições, completas, incompletas, variáveis, painéis; quanto à classe psico-social: criminosos, presidiários, alienados mentais, prostitutas ou cafetões, marinheiros, toxicômanos, surfistas, músicos, “gang” de rua, seitas, soldados, intelectuais, artistas etc.; quanto ao conteúdo psicológico: erótica (pornográfica, perversão, Obscenidade e luxúria), vingança (ódio, desprezo e vitupério), emotiva (amor a mulher, Amor a pátria, Amor a profissão, Amor a clube), religiosa (mística, mágica, votiva e supersticiosa), política (pseudopatriótica, impulsos bélicos, racismo), modismo (imitação, vaidade, profissional), rebeldia (lembrança, contra familiares, contra a sociedade, contra determinada, situação e pessoa). Guido Arturo Palomba
(ref. CID10) Pigmentação por tatuagem, (L81.8)