Relacionamento humano, mecanismo do
O mecanismo pelo qual se estabelece a relação do médico com seu Paciente é sui generis. Na maioria das vezes ela se verifica em decorrência de uma Doença. O motivo que leva o Paciente a procurar o médico costuma ser dor, sangramento, febre, enfim, um mal que o aflige. Certamente, só esse Fato já cria condições diferentes para o relacionamento do qual vou tratar. O doente chega ao médico contrariado por viver uma situação de infortúnio, condição de certa ou muita Angústia; entretanto, essa mesma situação de relativa inferioridade leva em si uma enorme Dose de esperança.
O primeiro Contato talvez seja dos mais importantes momentos e dele vai depender, em grande parte, a boa ou má evolução do referido relacionamento. Se o resultado daquele Contato não foi dos melhores, dificilmente o médico conseguirá inspirar confiança a seu Paciente. Há de ocorrer uma nítida empatia entre médico e Paciente para que o próprio doente abra seu Coração e diga o que precisa ser dito sem constrangimentos. Quanto mais fácil for o primeiro contato, mais forte poderá ser o grau de confiança do Paciente em seu médico. Este não poderá frustrar nunca as esperanças que o Paciente deposita nele. Nesse ponto está a chave do êxito. O médico não pode criar expectativa maior do que aquela que o doente pode ter. Ele deve transmitir esperança sem criar Ilusão. Esse equilíbrio é o que existe de arte no exercer a profissão. Na Dosagem certa do que falar e do que não falar está a habilidade do médico.
É de se compreender o quanto é difícil, em cada caso, aquilatar o adequado Procedimento. Nunca se pode esquecer que, no exercício da profissão, o médico não pode ser isolado do homem, com todos os seus méritos, defeitos e problemas.
A mente é muito complexa, motivo pelo qual o Comportamento é dificilmente entendido. As Relações individuais variam muito e dependem de diversos fatores, entre os quais o temperamento, o autocontrole, a educação, o nível social, o econômico e outros. Certas pessoas, em determinadas circunstâncias, têm manifestações imprevisíveis: imagine-se-as num consultório ou num Hospital. Muitas vezes, o silêncio aparenta tranqüilidade, mas está mascarando grandes emoções. A estabilidade emocional é predicado básico para o médico. Não se pode esquecer o Fato de que incidentes corriqueiros, aparentemente banais, podem prejudicar o relacionamento entre pessoas, principalmente quando ofuscadas pela Emoção. No consultório ou no hospital, é comum a Emoção perturbar tanto o Paciente que ele escuta o médico mas, às vezes, não o ouve e, às vezes, nada entende do que lhe foi dito, explicado e repetido. Tal situação depende muito mais do Estado emocional do Paciente do que de seu nível intelectual ou de outros fatores. Muito freqüentemente, em sua interpretação, ele distorce tudo o que foi dito, repetindo para o próprio médico exatamente o contrário do que este lhe dissera. Essa etapa do relacionamento costuma ser vencida na consulta seguinte ou com o auxílio de algum Acompanhante mais tranqüilo e que realmente esteja empenhado em ajudar o Paciente.
É difícil fazer que os pacientes e os familiares dêem a cada Fato a verdadeira dimensão. O que pode parecer fácil é, na prática, muito difícil. Nessa intrincada complexidade de jogo emocional, com verdades indesejáveis de serem ouvidas, esperanças de milagres inexistentes e recomendações aborrecidas, difíceis de ser seguidas, além de sempre inoportunas, deve o médico envidar todo seu esforço para conquistar a confiança do Paciente e dos familiares. Nesse contexto costumam aparecer, para dificultar, filhos que desejam mostrar dedicação e discordam de tudo o que foi feito, menosprezam a dedicação dos vizinhos e relembram todos os casos de malogro ocorridos com seus familiares, para relatá-los pormenorizadamente e, assim, amargurar mais o doente.