Fronteiras da vida e da morte

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Sem dúvida o Caráter da Morte é a irreversibilidade - estamos diante de uma experiência única, definitiva e radical. Contudo, relatos de pacientes que viveram momentos dramáticos de grande Perigo dão conta de uma zona fronteiriça entre a vida e a morte, em que pessoas religiosas vêem como que um limiar do além.
Experiência extraordinária é a do testemunho das emoções referidas pelos indivíduos que já estiveram por momentos nessa fronteira. Geralmente os Médicos perdem a oportunidade de conversar sobre as sensações relatadas pelos doentes que viveram essas situações, vítimas de parada cardíaca, em Coma profundo etc.
Tais pacientes contam lembranças interessantíssimas. Geralmente não sabiam o Perigo de vida pelo qual passavam. Seja qual for a cultura ou o nível de Inteligência e religiosidade, relatam sensações diferentes. Raramente falam do medo, mas contam ter iniciado o quadro como que envolvidos por um redemoinho com a sensação de tontura e de perda da sensação da gravidade. Contam muitos que, por instantes, viram passar todos os momentos principais de sua vida como se fosse uma projeção cinematográfica intantânea; que nesses quadros lembram os entes queridos sentindo a Tristeza que sua Ausência vai lhes causar. Alguns chegaram a arrepender-se de atitudes antigas, outros das decisões que tomaram e que interpretaram, no momento, como a causadora do problema que estão tendo. É comum o Caso daquele que, durante um acidente, no momento em que se sente a Morte iminente, arrepende-se de ter viajado.
Os religiosos costumam relatar esta experiência como a ida por instantes para Ambiente celestial etéreo, entre nuvens e cânticos. Geralmente quando voltam à consciência, costumam reafirmar sua fé na vida do além. Todos se gratificam com tais momentos vividos no além. Essas referências ocorrem também após Anestesia geral, quando a fase de indução for prolongada.
Nos pacientes em Choque toxêmico, a inconsciência nem sempre é lembrada. Quando eles têm alguma recordação costumam relatar sensações semelhantes a Pesadelos lúgubres, reportando-se, algumas vezes, à impressão de entrar em um túnel escuro e frio, com uma descida insegura e muito longa. Todos lembram que a volta dessa experiência sempre ocorreu com a sensação de grande estafa e prostação, vendo a luz que o incomoda.
Posteriormente, o Paciente só se lembra da grande estafa e vagamente das visões referidas. A noção de tempo, duração, espaço ficam confusas e nada é contado com precisão.
Muitos homens maus, após uma experiência como esta, mudam de conduta. Talvez não seja esta a expressão correta; sentindo a Morte ao seu lado e restando em sua alma um pouco de sentimento, pode ser que aquela dor refine este resquício do bem e o aprimore. Não é o mesmo que ocorre com outros que, numa hora de pânico, comportam-se como um animal selvagem, emergindo toda agressividade à tona. Tais doentes tornam-se difíceis de ser, até mesmo, examinados.
Diante desses casos, o médico, que tanto lutou para salvar o doente, talvez deva, como servo da ciência, guardar o silêncio, mas o homem que nele pulsa e sente, tem dúvidas e certezas, sonhos e esperanças, pode, em seu foro íntimo, se permitir crer.