Residência Médica

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Idéia genial de Halsted que, no último lustro do século passado, imaginou o Treinamento tutelado no Trabalho . Em três anos de Treinamento e morando no próprio hospital, o médico adquire a experiência que levaria uma década para obter e, certamente, com o alto preço social do sacrifício de muitas vítimas. Embora o sistema, indubitavelmente o melhor para treinar o médico, até hoje não tenha sido superado e seja oficializado pelo Ministério da Educação, não é acessível a todos os Médicos que se diplomam por ano no País. Anualmente mais de 8.000 Médicos se diplomam, mas só existem cerca de 3.000 vagas em Residências Médicas. Os 5.000 restantes ficam à mercê do acaso, pleiteando estágios na esperança de conseguirem vaga no ano seguinte. Quando novamente concorrem, aparecem, o mais das vezes, em piores condições, pois esqueceram o que não haviam aprendido. O Fato é que, a cada ano que passa, os que se recandidatam apresentam-se pior preparados. Aliás, essa Observação tem valor internacional, pois, nos Estados Unidos só se permitem três tentativas em exame de Qualificação profissional, uma vez que a experiência demonstrou que a probabilidade de aprovação diminui com o passar dos anos. Esse contingente de Médicos resultante da somatória daqueles que a cada ano vão ficando fora da Residência deve ser considerado incompetente pois o exame feito pela segunda vez ou até mesmo pela terceira comprova esse Fato. Esse grupo eqüivale àqueles que nos Estados Unidos, embora sendo aprovados para exercício profissional regional, não o são para outras regiões do país e que na Observação feita por More costumam ser os mais presentes nos tribunais. Entretanto, terão que sobreviver, razão pela qual aceitam um subemprego, sem a menor possibilidade de melhorar seus conhecimentos. Alguns acabam fazendo estágios sem programação e sem a mínima orientação; alguns abrem clínica na periferia, e outros vão para o interior, ou acabam trabalhando em empregos que não exigem Qualificação maior. Raramente e com muita Dificuldade conseguem fazer cursos ou estágios de reciclagem. É de se lembrar que muitos destes jovens médicos, por não conseguirem condições para Treinamento profissional e muito menos um título de especialista, se intitulam, eles próprios, de Clínico Geral. Assim, atualmente, o país treina apenas um terço daqueles que se diplomam em medicina. Imagine-se que a cada ano os dois terços excedentes vão se acumulando. Há de se dar uma Solução para essa situação. O que não se pode é contemplar o problema e ignorar sua existência. Evidentemente, a primeira Solução seria impedir diplomar Médicos em número Superior às possibilidades de treiná-los adequadamente. O mais grave ainda é que o número de diplomados é maior do que a Capacidade do mercado de Trabalho de absorvê-los. Estima-se que, considerando o Aumento populacional e o número daqueles que vão deixando a profissão, haja anualmente 5.000 novos empregos. Como vemos, sempre fará Parte da boa formação um bom Treinamento. O que pode ser conseguido com a conjunção de vários fatores - em especial, boas escolas, bons mestres e bons hospitais. O coroamento dessa formação é a Residência Médica. Trilogia do T - A trilogia: Treinamento Tutelado no Trabalho é uma condição especial de preparo profissional peculiar ao médico recém-formado. O exercício imediato da profissão, feito sob a orientação direta do mais experiente e bem formado, possibilita ao jovem o conhecimento adequado da medicina, de como ela é exercida, além de propiciar vivência da clínica em tempo reduzido. O Treinamento tutelado ensina como fazer e, pelo Fato de o programa de aprendizado decorrer da rotina de um Serviço, mostra como as coisas se dão na vida real. O atendimento do doente ensina o “caso”. A discussão entre colegas afere o valor dos dados para a elaboração do diagnóstico, tendo em vista o cabedal de conhecimento teórico dos mais experientes. Dessa maneira, o jovem aprende a ter uma atitude científica que o deixa em condições de, ao defrontar-se com um Caso com o qual não se deparara ainda, saber conduzir-se. Aprendizado Vertical - É mister que se destaque o valor educativo do aprendizado Vertical resultante do permanente exercício da hierarquia entre os Residentes. O Fato de o R1 (Residente do Primeiro ano) examinar o doente e apresentar o Caso ao R2, e este resolver o que sabe e levar as dúvidas ao R3 e, assim, sucessivamente passando pelo Preceptor, Assistente, e chegando até ao Chefe do Serviço, obriga todos os envolvidos neste Processo a analisarem o fato, ordenarem as idéias para apresentá-las, encadearem argumentos para fazerem dedução e, imediatamente, receberem as críticas. O raciocínio assim conduzido repetidas vezes, de maneira progressivamente mais complexa sempre sobre um doente cada vez mais grave, é Motivação suficiente para aguçar a Inteligência e estimular a Memória e a Atenção. A consolidação dos conhecimentos teóricos e práticos, entretanto, se faz pela reprodução, em razão da qual os ensinamentos recém aprendidos são, por eles próprios, Residentes, retransmitidos aos mais jovens. A repetição fixa melhor o que foi recentemente adquirido. Assim, a acumulação de conhecimento do Residente vai aumentando e, em pouco tempo, ele está altamente capacitado a fazer Diagnóstico e estabelecer determinada conduta. Os procedimentos maiores, feitos sob a vista dos experientes, garantem a Qualidade de serviço prestado ao doente e, conseqüentemente, a do aprendizado do Residente. Características Psicológicas do Médico - A intenção do jovem, de ser médico, traduz uma condição psicológica especial que permite admitir certo Impulso de coragem e evidente contingente de autoconfiança nata pois estará cuidando da vida humana e deverá tomar decisões prontas e acertadas sob grande Risco de vida para o Paciente. É fundamental que, no Período de treinamento, tais pendores sejam contidos pela autocrítica, evitando-se, porém, que esta atue como fator sufocante, inibindo-o. O ponto ideal de equilíbrio indicará a Maturidade. Anseio pelo moderno - O desejo ardente de conhecer o que há de mais recente na literatura deve ser uma constante no Residente, e pode ser evidenciado pela dedicação ao estudo em busca de novos conhecimentos. A permanente Obsessão em utilizar adequadamente os novos recursos diagnósticos, dominar as últimas técnicas operatórias, bem como conhecer as modernidades medicamentosas deve ser sempre contida pelo bom senso, que será o denominador comum de todos os procedimentos do médico. A Doutrina do Treinamento profissional do médico que norteia todo programa de Treinamento como complementação da formação profissional do médico deve obedecer alguns princípios que, aliás, estão contidas em sua essência na Resolução 005/79 da Comissão Nacional de Residência Médica, e que pode ser resumida nos seguintes itens: 1- desenvolver o Raciocínio Clínico; 2- exercitar as habilidades técnicas; 3- aprimorar a Capacidade de tomar decisões; 4- saber valorizar o significado dos fatos somáticos, psicológicos e sociais; 5- desenvolver as ações de Caráter preventivo; 6- saber participar das equipes multidisciplinares de Assistência ao doente a comunidade; 7- adquirir a Capacidade de Aprendizagem independente; 8- preocupar-se na participação de Educação continuada; 9- ter visão crítica da medicina; 10- aprender a cuidar do Indivíduo sem perder de vista a comunidade.