Formação do médico, ângulos da questão

De Enciclopédia Médica Moraes Amato
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Importa aqui referir dados que explicam, embora não justifiquem, o nível de uma Parte dos Médicos que chega a cada ano no mercado de Trabalho e, de outro, dão um perfil do povo que se avoluma nos hospitais e ambulatórios públicos, em busca de atendimento médico.
Consideremos, em primeiro lugar, nossa situação cultural. Comparativamente, a Crise educacional pela qual passam atualmente os Estados Unidos da América do Norte, referida com ênfase pelo presidente Bill Clinton como sendo a mais grave de sua história, soa de maneira estranha para quem toma como Base a situação do Brasil, como refere Antônio Ermínio de Moraes (Folha de S.Paulo, 10.01.93). De fato, cerca de 90% da força de Trabalho americana possui Educação secundária e 63% tem nível universitário, enquanto, entre nós, essas percentagens são apenas 39% e 11%, respectivamente. Estes dados são suficientes para que se entenda a diferença de nível do País. O articulista se refere ao Fato de o leitor achar que o problema no Brasil é alfabetização - o que confirma o baixo nível em que o País se encontra, quando confrontado com as nações do primeiro mundo.
De fato, o nível cultural do nosso povo é fortemente marcado pelas suas condições sócio-econômicas, em especial pela Fome e, conseqüentemente, também por grande Deficiência nutricional, destacando-se, entre os fatores agravantes, para as camadas mais baixas, os maus hábitos higiênicos, as doenças endêmicas, as péssimas condições de habitação, em que a miséria é o denominador comum.
Particularmente, no campo da saúde, nos hospitais e ambulatórios públicos, as intermináveis filas, quando não são vencidas após longa espera, podem levar à Morte do Paciente ou, na melhor da hipóteses, ao agravamento de seu quadro, o que, à vista do Estado de urgência, condu-lo ao Pronto Socorro. Isto é, o doente consegue ser atendido quando o seu quadro clínico foi de tal modo agravado que suas condições são, então, muito piores. Note-se que a medicação prescrita poucas vezes pode ser adquirida pelo Paciente por falta de dinheiro e, mesmo quando é dada gratuitamente, a ignorância, o analfabetismo fazem que a compreensão das recomendações seja parcial, o que prejudica ainda mais o Tratamento. Três quartos da população do país está em tais situações. Logo, é essa a realidade nacional.
Quanto aos profissionais, Médicos que prestam serviços e Assistência à essa população, há que se levar em consideração, de um lado, as carências do ensino que os formou e, de outro, certas condições específicas que cercam o exercício da medicina, diretamente ligadas seja ao Caráter provisório das certezas nessa Área do conhecimento, seja à rapidez de sua transformação.