Arteriosclerose
F. artério + gr. sklerosis, dureza.
O Progresso leva ao permanente aprimoramento das condições de vida e à melhor proteção à Saúde. Esses fatos têm condicionado um Aumento constante do tempo de vida médio. Paradoxalmente o mesmo fator - Alongamento da vida - é responsável diretamente pelas condições que favorecem o aparecimento de certas doenças e indiretamente por expor o indivíduo, durante maior tempo, à possibilidade de adoecer. Ao contribuir para o aprimoramento das condições de vida, ocasionando maior longevidade, o Progresso responde pela maior Incidência de doenças vasculares. Assim, ocorre porque se a tecnologia simplifica as tarefas dos homens, possibilita uma vida sedentária e inativa: o conforto imobiliza. E boas condições econômicas conduzem a uma melhor alimentação. Todos esses fatores causam a Obesidade que, associada aos hábitos de Fumo e da bebida alcoólica, propiciam a Arteriosclerose que, junto com as varizes, representa a maior Incidência de doenças vasculares. Sendo assim, quanto mais desenvolvido o país, maior é o número de pessoas com moléstias dessa natureza. Considerando os indivíduos com mais de 60 anos, pode-se afirmar que 80% deles morrem de Arteriosclerose. As moléstias infecciosas e a Fome tornam, nas regiões subdesenvolvidas, a existência mais curta. Nas regiões ricas onde a vida é mais longa e melhor a Arteriosclerose é o fantasma. Quanto mais progresso, maior desenvolvimento, maior tecnologia, maior automatização, menor Atividade física do homem, maior Incidência de Arteriosclerose. A Arteriosclerose intimida toda a população. Na literatura internacional há, entretanto, referência a lesões iniciais arterioscleróticas em coronárias de crianças com 18 dias de vida. Um dos autores observou em uma jovem negra de 14 anos, Ateroma ocluindo dois terços da Artéria ilíaca. É sabido que a mulher tem menos Arteriosclerose que o homem e que o negro menos que o branco. A Artéria possui três camadas que são denominadas túnicas: a adventícia - mais externa, a média e a mais interna - a íntima. Esta camada é irrigada por embebição do Sangue que flui na própria Artéria. A Doença inicia-se na Túnica íntima com a proliferação de células. Esta proliferação é de tal intensidade que em certos pontos o Sangue que a nutre se torna insuficiente e assim aparecem focos degenerativos. Uma terceira fase dessa evolução é caracterizada pelo Depósito de substâncias gordurosas como o Colesterol e os Triglicérides que se encontram no Sangue. Aparece o Ateroma, Benditt compara o Ateroma a um Tumor benigno da Parede da Artéria. A Doença ataca a Parede das artérias e rompe suas fibras elásticas e a enfraquece. A Pressão do sangue, agindo sobre essa zona de menor resistência, condiciona Aumento de diâmetro, assim se Forma o Aneurisma. Este terá manifestações clínicas variáveis dependendo das estruturas circunvizinhas. Será doloroso se atingir nervos, corroerá ossos e, se os comprimir, seguirá sua evolução natural tendendo sempre para a rotura. Essa complicação poderá manifestar-se como um episódio Agudo intercorrente na evolução crônica daquele Tumor (aqui Tumor é usado, em Sentido lato, como Aumento de volume). Ela pode determinar desde simples desconforto causado pela Distensão do Sangue divulsionando as estruturas vizinhas, até a Morte decorrente de grandes hemorragias internas ou em Órgãos nobres como o Cérebro. Manifestação mais freqüente da Arteriosclerose é, entretanto, a Lesão da Artéria caracterizada pelo Aumento da espessura da parede, avançando para dentro, de tal Forma que a luz vai diminuindo, forma-se a Estenose e nos casos mais avançados, total Obstrução. A conseqüência da diminuição da luz arterial é a menor passagem de Sangue. Essa Queda de fluxo sangüíneo determina um déficit de irrigação dos tecidos. Essa irrigação deficitária é denominada Isquemia. Esta tem manifestações variáveis na Dependência da intensidade da Oclusão da luz do vaso e da extensão em que a Lesão atinge a Artéria interrompendo a passagem de Sangue pela Circulação colateral que, se preservada, muitas vezes compensa as necessidades circulatórias do Segmento. A evolução natural dessas lesões é para a Obstrução total pela Trombose. Trombose é a formação de um coágulo de Sangue que se origina em Ateroma e se ulcera. Ela Causa a Obstrução abrupta de Artéria. É intercorrência aguda numa evolução crônica. Dependendo do Órgão afetado variará a manifestação clínica. Em uma Artéria carótida, que irriga o cérebro, a qual lentamente vinha se estreitando e que subitamente trombosa pode ter como correspondência clínica a História de um Paciente absolutamente assintomático e que subitamente ficou inconsciente e hemiplégico (paralisia de um lado do corpo). O mesmo quadro anatômico numa Artéria coronária leva a manifestações clínicas para o lado do Coração. A Estenose corresponderá à Angina do Peito (dor precordial ao esforço) e a Trombose ao Infarto do Miocárdio. As lesões obstrutivas nas artérias que irrigam os intestinos causam Isquemia crônica intestinal dando dores abdominais após refeições. Nos casos de trombose, a Isquemia aguda leva à Necrose obrigando a ressecções do Intestino. Quando estas são extensas, só haverá sobrevivência com seqüelas gravíssimas.
As lesões nas artérias renais causando Isquemia crônica levam, por mecanismo hormonal, a Secreção de Renina produzindo, assim, a Hipertensão arterial (pressão alta). As artérias que irrigam os membros inferiores também podem ser vítimas do mesmo Processo patológico. A Estenose dessas artérias determina, ao andar, Fadiga precoce. É o Caso do Paciente que após uma caminhada de três a quatro quarteirões, sente dor na musculatura da Perna. Essa dor é de tal magnitude que o obriga a parar. O simples Repouso por dois ou três minutos permite nova caminhada Equivalente à primeira. Esse parar por dor é chamado de Claudicação Intermitente e é Patognomônico de Lesão arterial.
___ de Monckeberg, Calcificação da Túnica média da Artéria produzindo conseqüente enrijecimento da mesma. É Lesão degenerativa que eqüivalente a Arteriosclerose em fase final. Produz enfraquecimento da Parede que, eventualmente, pode evoluir para aneurismas e quando isso ocorre eles costumam ser múltiplos. Esta correlação foi descrita pela primeira vez, em 1911, por Oskar Klotz. A palpação de uma Artéria fina com tal Lesão lembra uma Traquéia de passarinho, denominação essa usada pelos antigos semiologistas. Visível à Radiografia simples e, como não prolifera para o interior da artéria, não produz manifestações isquêmicas por Estenose ou Obstrução.
___ experimental, a utilização da Veia como substituto arterial revela que o Processo de Adaptação ao regime pressórico arterial cerca de 14 vezes Superior e permanentemente pulsátil transforma a Veia em Artéria a ponto desta chegar a apresentar Alterações de suas doenças. Esse conjunto de modificações justificam o título deste verbete. O termo “arterialização” é adotado na literatura devido à semelhança da Veia com a artéria, quando utilizada como seu substituto, entretanto, Chaterjee e col. (1964) discordam com a utilização deste termo, demonstrando histologicamente que não há tendência das fibras musculares se modificarem, nem das elásticas aparecerem, e sim, reposição do Tecido original com colágeno revestido por camada íntima fina contendo células musculares novas, levando a maior Resistência da parede, mas, fazem referência a Carrel, dizendo que provavelmente estas Alterações seriam as encontradas por este autor com a denominação de Arterialização. Outros como Vlodaver e Edwards (1971) que encontram maiores Alterações na camada íntima também discordam da utilização desse termo, entretanto, não pairam dúvidas de que a Veia adquire características próprias da Artéria e assume sua Função. Em algumas áreas observa-se a tentativa de reestruturação da Parede venosa devido à sua Função de Artéria para suportar a Variação de fluxo e Pressão sangüínea. Aparentemente este reforço é atingido na Parte conjuntival da camada média, parece haver Dilaceração das fibras musculares lisas, levando à diminuição da atividade motora. O Tecido colágeno aumenta progressivamente para aumentar a Resistência da Veia. A presença de espessamento da veia, bem como a Degeneração progressiva da Célula muscular, a ruptura e afastamento das fibras elásticas confirmam a reprodução de um modelo arteriosclerótico, uma vez que essas Alterações representam a evolução da História natural dessa Doença com endurecimento da parede, dilatações, Alongamento e Obstrução por Trombose. (Salvador José de Toledo Arruda Amato) Ver: Arterialização da veia, Fístula arteriovenosa, Veia arterializada.
___ obliterante periférica, a dor causada pela Isquemia dos membros inferiores deve ser distinguida daquela devida ao pé plano, gota, varizes, celulite, linfangite, Artrite e arteriopatias funcionais.
Estima-se que, uma vez evidenciada uma das manifestações clínicas dessa doença, o Paciente tem uma, entre duas probabilidades, de vir a falecer dentro de cinco anos.